China usa óculos de R$ 2 mil para reconhecer criminosos nas ruas

A polícia da China adicionou recentemente uma nova “arma” ao seu arsenal para prender criminosos: óculos equipados com software de reconhecimento facial de alta precisão. Os dispositivos já estão em teste em uma estação de trem de Zhengzhou, onde escaneiam todos os passageiros que passam por lá em razão da migração para as comemorações da Festa da Primavera, o ano novo lunar chinês, no dia 16.

De acordo com o site especializado em tecnologia The Verge, os óculos chineses são controlados por um dispositivo móvel e tem um custo estimado de 3.999 yuan (R$ 2.070) – o software de reconhecimento, porém, não está incluído neste valor e não teve o preço divulgado. O equipamento não está disponível para consumidores em geral.

No período que antecede o ano novo chinês há um grande aumento no fluxo de passageiros nos meios de transporte em todo o país. Na East Railway Station de Zhengzhou, onde o equipamento é testado, a quantidade de viajantes deve aumentar para 90 mil pessoas por dia, 50% a mais do que no resto do ano.

Ao menos 7 suspeitos de envolvimento em crimes como sequestro e atropelamentos já foram presos no local graças ao uso da nova tecnologia, segundo a China News Service. Além disso, outras 26 pessoas foram detidas pelo uso de documentos falsos após serem escaneadas pelos óculos inteligentes.

“A informação facial é capturada pelo óculos e enviada para um banco de dados para comparação com as informações de suspeitos em uma lista de procurados”, afirmou ao jornal estatal Global Times Zhang Xiaolei, funcionário do Departamento de Segurança da Província de Henan, onde fica Zhengzhou.

Zhang disse que a nova tecnologia só precisa de uma imagem do rosto de uma pessoa para fazer a comparação no banco de dados, uma evolução em relação aos sistemas anteriores de reconhecimento facial que precisavam de fotos de vários ângulos para obter o mesmo resultado.

De acordo com o Wall Street Journal, o óculos testado pela polícia chinesa – cujo design se assemelha ao do Google Glass, lançado em 2013 pela gigante americana de tecnologia – foi desenvolvido pela LLVision Technology Co., com sede em Pequim.

O CEO da companhia, Wu Fei, disse ao WSJ que criou os óculos em parceria com as autoridades para suprir todas as necessidades dos forças de segurança. “Ao criar um dispositivo com a inteligência artificial diretamente na interface, o usuário recebe um retorno instantâneo e preciso. E pode decidir imediatamente qual será a próxima interação.”

Ao escrever sobre a nova tecnologia testada pela polícia chinesa, o diário espanhol El País destacou que nos últimos anos o país deu um “impulso significativo” no desenvolvimento de inteligência artificial, um setor considerado estratégico pelo Partido Comunista Chinês.

Segundo o jornal, a China já consegue identificar motoristas que violam normas de trânsito em Xangai e detectar pessoas procuradas pela polícia em grandes eventos, como o Festival Internacional da Cerveja na cidade de Qingdao, com o uso de imagens de câmeras de segurança – estima-se que até 2020 o país terá mais de 600 milhões de dispositivos deste tipo à disposição das autoridades.

Todos estes avanços, no entanto, são vistos com preocupação por críticos em relação à privacidade dos cidadãos chineses e também pelo possível uso da tecnologia para combater dissidentes.

Em dezembro, por exemplo, a ONG Human Rights Watch denunciou que na região de Xinjiang, onde está concentrada a minoria uighur, as autoridades criaram bases de dados biométricos com captura de digitais, escaneamento de íris e coleta de DNA de centenas de milhares de pessoas durante uma campanha anual de exames físicos voltada para pessoas de 12 a 65 anos.

Também ao WSJ, William Nee, pesquisador de China para a Anistia Internacional, disse que o uso cruzado desta nova tecnologia com os bancos de dados existentes e em criação no país ameaça a liberdade das pessoas. “Ao dar a cada um dos policiais a capacidade de reconhecimento facial (com o uso dos óculos), a China poderia eventualmente tornar o estado de vigilância mais onipresente.”

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