Técnica guarda pele para ajudar a identificar cadáveres
Recurso para a recuperação do traçado original das impressões digitais ganha corpo na Polícia Civil e já contribui para elucidar crimes
Familiares de Maria da Conceição Campos puderam enterra-la sem esperar por exame de DNA
Ajudar na elucidação de crimes e devolver a história pessoal a cadáveres que chegam ao Instituto Médico Legal (IML) sem documentação e sem identificação tem sido o trabalho de papiloscopistas do Instituto de Identificação da Polícia Civil. O aprimoramento de técnicas já existentes, tecnologia e servidores especializados tem ajudado a diminuir o número de casos em investigação parados nas delegacias e também levado alento às famílias dessas pessoas.
Entre 2010 e 2015 foram enterrados como indigentes 625 corpos que não tiveram suas identidades confirmadas por exames periciais. Neste período, o número de corpos que deu entrada no IML de Goiânia cresceu 10,4% e de corpos não identificados aumentou 179%. Essa realidade pode mudar a partir de abril desde ano, quando a base de dados papiloscópicos civil e criminal estiver pronta para análise.
Desde 2006, o Instituto de Identificação guarda fragmentos de papilas dérmicas de cadáveres enterrados como indigentes. Com a entrada em vigor do novo sistema da base de dados do Instituto de Identificação da Polícia Civil, os papiloscopistas que até agora trabalhavam fazendo a análise manual em fichas de papel, vão contar com o sistema digitalizado de 5 milhões de fichas de identificação civil de Goiás.
Uma sessão batizada de ‘Encontro’ vai poder identificar, com base no novo cadastro civil e criminal, quem eram as pessoas enterradas como indigentes, cujo material foi guardado por todos esses anos. “É mais que um trabalho científico. É um trabalho social”, conta o diretor do Instituto de Identificação da Polícia Civil, o papiloscopista Antônio Maciel Aguiar Filho. “A não identificação (de cadáveres) concorre para fortalecer problemas que se correlacionam direta ou indiretamente ao corpo encontrado, como a própria manutenção do status de indigente, a baixa resolubilidade de homicídios, o sentimento de impunidade, o aumento da sensação de insegurança, a não garantia do direito da família no aspecto sucessório, assim como nos ritos de morte, sepultamento e luto de um ente familiar”.
A afirmação constante no estudo ‘Corpos Indigentes: a identificação dos corpos com identidade ignorada encontrados no Estado de Goiás’, do sociólogo Dijaci David de Oliveira e dos papiloscopistas Simone de Jesus e Antônio Maciel Aguiar Filho, mostra a importância legal e social da identificação dos corpos que chegam como ignorados nos Institutos Médicos Legais.
Carbonizados
Antônio Maciel explicou que a maioria dos cadáveres enterrados sem identificação são carbonizados, mas do ano passado até agora, as equipes do órgão têm conseguido descobrir a identidade dos corpos usando uma técnica que consiste na busca das impressões digitais pelo avesso da pele.
A mão do cadáver carbonizado é seccionada, tratada e a pele virada como a do avesso de uma luva. É feito o tratamento do tecido até que se consiga colher a impressão digital da vítima.
Foi assim que foram identificados os corpos da professora Milena Barbosa de Melo, de 33 anos, morta no ano passado pelo ex-marido. O corpo do namorado dela, Antônio Vidal da Silva, de 36, ainda não foi formalmente identificado. “Estamos tentando tratar os fragmentos do corpo para identificá-lo formalmente”.
Outro caso elucidado foi o do pedreiro Davidson Rogério da Silva Gomes, morto a facadas e carbonizado em uma casa na Chácara do Governador, em Goiânia, no dia 25 de janeiro deste ano.
A família sofreu por sete dias para conseguir atestar que ele era a vítima do assassinato brutal. Até quinta-feira da semana passada, peregrinava por órgãos estaduais para conseguir atestar o óbito do homem que deixou três filhos menores.
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