Empresário cria programa de 10 mil empregos temporários na pandemia

Em resposta à crise do coronavírus, Bruno Garfinkel, da Porto Seguro, lança fundo de R$ 100 milhões para abrir vagas de R$ 1.500 por três meses e capacitação.

 

Impedido pela pandemia de fazer um curso para líderes empresariais em Harvard, suspenso após a primeira aula em março, Bruno Garfinkel, presidente do conselho de administração da Porto Seguro, retornou a São Paulo onde fez uma espécie de intensivo em home office.

Tão logo se deu conta da extensão da crise sem precedentes, o empresário começou a desenhar uma resposta para além da filantropia e que fizesse sentido para a companhia e para a sociedade.

O resultado é o lançamento nesta quarta-feira (8) do programa Meu Porto Seguro, que abre 10 mil vagas para desempregados da era Covid-19, uma legião que chegou a 12 milhões de trabalhadores brasileiros, segundo o IBGE.

Em entrevista exclusiva à Folha, Garfinkel explica que a ideia é “dar a vara e ensinar a pescar”, oferecendo um salário de R$ 1.500 mensais, como renda principal ou extra, a trabalhadores temporários selecionados para um programa de três meses de capacitação e formação para o mercado de seguros.

“O propósito é ser uma faísca catalisadora, incentivando a contratação de pessoas neste momento em que o emprego é um lugar muito importante para todos”, diz Garfinkel, um dos primeiros a aderir ao movimento #nãodemita.

“Essa é uma das maiores crises que nosso país já enfrentou. Por isso, é essencial que grandes empresas se mobilizem com iniciativas de solidariedade.”

Ao longo de dois meses e meio, o filho do fundador da seguradora que faturou em R$ 18,3 bilhões em 2019, fez o dever de casa para executar um projeto que corresponde a 10% do lucro líquido da empresa no ano passado, valor aprovado pela família e pelo conselho de administração para o projeto de investimento social na crise do coronavírus.

O Meu Porto Seguro, que recebe inscrições a partir de hoje no site, foi concebido em três frentes: ajudar na renda familiar, formar e educar. O montante será usado como um fundo para gerar 10 mil empregos imediatos. As primeiras contratações devem acontecer até 3 de agosto.

Por meio de metodologia EAD, de ensino à distância, os selecionados serão inseridos em atividades da empresa. São elegíveis às vagas qualquer pessoa que tenha condições de trabalhar em home office e disponha de celular ou computador com acesso à internet.

“Nossa intenção é criar opções para que os brasileiros que se encontram em dificuldades possam percorrer novos caminhos em sua jornada pessoal e profissional”, afirma Garfinkel.

O foco do programa é oferecer oportunidade para aqueles afetados pela crise que estejam fora dos programas assistenciais e emergenciais do governo.

“A ideia é permitir que o desempregado tente uma nova profissão, ao mesmo tempo em que recebe um socorro para despesas como supermercado”, explica Garfinkel.

A típica figura de um corretor de seguro, diz ele, é alguém que quer empreender e tem como principal ativo uma rede de relacionamentos e honestidade.

Quando a pandemia passar, o trabalhador poderá continuar no ramo de seguro, abraçando uma profissão nova.

“Vamos aproximar as pessoas que se sobressaírem de corretores parceiros, dando a oportunidade de crescimento no mundo do seguro”, afirma Roberto Santos, presidente da Porto Seguro, que tem 13 mil funcionários e 36 mil corretores.

Gafinkel e equipes de áreas estratégicas da empresa empreenderam uma maratona diante do desafio logístico de contratar em tempo recorde quase o mesmo número de funcionários permanentes e por um período curto.

O empresário de 42 anos, que já participou de três provas de Iron Man, fala com entusiasmo do trabalho que envolveu da TI, para construção do portal de contratação, à comunicação, para estruturar a divulgação da iniciativa.

A concepção inovadora fomenta ainda indústria de seguros e a economia em geral, partindo da premissa de oferecer “um porto seguro” para quem perdeu a renda na crise do coronavírus.

Uma fórmula que foi sendo montada a partir de meados de abril, quando Garfinkel avaliava cenários para os negócios e como ir além no esforço de ajudar comunidades vulneráveis, doar respiradores para hospitais e distribuir álcool em gel, primeiras ações da companhia para minimizar os impactos da Covid-19.

“No primeiro dia da crise, minha preocupação inicial era saber se temos como pagar nossas obrigações, se tínhamos caixa para indenizar as famílias de quem vai morrer e para atender quem vai ser internado”, relata.

Como administrador e integrante da família fundadora, era preciso garantir antes que a companhia não quebrasse, assim como manter salários e comissões dos funcionários.

Só então, lançou mão da proposta ousada de subtrair dividendos dos acionistas para um programa de geração de renda na crise. “Sou novo no cargo, acredito em competição e em eficiência, mas a filantropia está na essência da nova família.”

Presidente do conselho de administração da Porto Seguro há pouco mais de um ano em substituição ao pai, Jayme Garfinkel, que fundou a companhia, ele aceitou o desafio paterno de fazer mais do que filantropia frente à responsabilidade social da empresa.

A ideia do Meu Porto Seguro, inspirado em um post de um desempregado que relatava a perda de sua base de segurança, casou-se com o nome da companhia e com o espírito do programa, que é oferecer um lugar, ainda que transitório, para as pessoas atravessarem a tempestade da pandemia.

“Fico emocionado com a mensagem que estamos trazendo no nosso manifesto que é a de que as oportunidades procuram as pessoas em um momento que também nos trás uma série de reflexões, entre elas como todos nós vamos trabalhar daqui para frente”, diz Garfinkel.

A experiência em home office mostrou-se producente e estimulante, com a estruturação de uma solução inovadora em resposta a crise em tempo recorde.

Acostumado a percorrer longas distâncias em corridas mundo afora, como maratonista, de bike ou em carros, o empresário foi forçado a desacelerar.

Desistiu de provas e viagens previstas para 2020. “Deletei a lista anual de planos que faço no meu bloco de notas”, conta, enquanto escrevia novo capítulo pessoal e profissional sem sair de casa, em uma parada forçada por um vírus que dizima vidas e empregos em velocidade.

 

 

Fonte: Folha de São Paulo

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