Tamilys Ferreira da Silva, João Vitor Mateus de Oliveira, Leandro Santana de Paula, Nagib Pacheco da Silva e Irani Frutuoso de Assis (da esquerda para a direita) — Foto: Reprodução/Redes Sociais e arquivo familiar

Trata-se de uma iniciativa do Ministério da Justiça e Segurança Pública, com a participação das Secretarias de Segurança Pública de todas as 27 unidades da federação

O desaparecimento de um ente querido envolve um turbilhão de sentimentos. Passadas as primeiras horas quando não há uma notícia de alívio, a expectativa se transforma em temor do pior. Surgem dúvidas, questionamentos, análises de possibilidades e o desejo de um desfecho. E quando ele não vem por 15 anos, criando um vazio imenso? A partir do dia 26 até o dia 31 deste mês e ainda em setembro e outubro haverá uma mobilização nacional para identificação de pessoas desaparecidas, uma iniciativa do Ministério da Justiça e Segurança Pública, com a participação das Secretarias de Segurança Pública de todas as 27 unidades da federação.

Durante 15 anos, Ana Lúcia Gomes do Vale, moradora de Aparecida de Goiânia, esperou ter notícias da filha, Géssica Vieira do Vale, que desapareceu em 2008, aos 16 anos. A adolescente deixou a casa da família dizendo que iria visitar uma colega de escola e nunca mais foi vista. Na época, foi feito o registro policial e familiares e amigos se mobilizaram para tentar encontrar a jovem, mas não obtiveram nenhuma informação do paradeiro de Géssica.”Ninguém entrou em contato comigo, ninguém falou nada”, contou Ana Lúcia em vídeo encaminhado ao Laboratório de DNA da Polícia Técnico Científica de Goiás para explicar como obteve notícias da filha depois de tanto tempo.
“Uma amiga me aconselhou a deixar o DNA na Polícia Científica”, conta Ana Lúcia que, ao lado do filho Jefferson, atendeu o chamado da campanha feita em 2021 para coletar o DNA e impressões digitais de familiares de pessoas desaparecidas. Dez anos antes, em 2011, havia entrado uma ossada sem identificação no Instituto Médico Legal de Goiânia. “Nós já tínhamos trabalhado nessa ossada antes, mas é um processo muito difícil”, conta Laryssa Silva de Andrade Bezerra, perita criminal e administradora do Banco de Perfis Genéticos da SPTC de Goiás. Uma nova análise foi feita a partir das 188 amostras coletadas na capital na campanha de 2021 e, desta vez, colocou um ponto final na procura da família Gomes do Vale.

Ana Lúcia soube em dezembro de 2023 que uma das ossadas que estava na Seção de Antropologia e Odontologia Legal do IML da capital era da filha Géssica. “Eu tinha muita esperança de encontrar minha filha viva, mas pude fazer o sepultamento dela.” Ana Lúcia enfatiza que para aqueles que têm pessoas desaparecidas, é importante tirar o DNA e as impressões digitais junto às autoridades porque pessoas vivas também são localizadas. “Ocaso da minha filha era muito antigo, a ossada dela ficou 12 anos no IML. Não mudem o número do telefone, que eles vão entrar em contato”, aconselha.

A perita criminal Laryssa Bezerra elogia a determinação de Ana Lúcia. “O fato dela ter participado da campanha fez toda a diferença porque podemos identificar a qualquer momento.” O Laboratório de DNA da SPTC atua de duas formas, pelos processos encaminhados pela Polícia Civil e pelo chamamento da população. Na mobilização deste mês, mesmo pessoas que nunca fizeram um Registro de Atendimento Integral (RAI) sobre o caso de desaparecimento em família, podem aproveitar para fazer o registro, além de autorizar a coleta de DNA e de impressões digitais.
Material biológico vai compor o Banco de Perfis Genéticos.

Dentro da Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas, existente no Brasil desde2019, a mobilização nacional para identificação de pessoas desaparecidas ocorre sempre no mês de agosto. Este ano, entretanto, o esforço concentrado será realizado em três etapas: do dia 26 até o dia 30 deste mês, serão coletados o DNA de familiares de pessoas desaparecidas, mesmo aqueles que não tenham feito o RAI em 23 pontos de coleta espalhados por todo o Estado; durante o mês setembro serão coletadas amostras de pessoas vivas não identificadas que estejam em hospitais, casas de acolhimento, etc.; no mês de outubro a força-tarefa irá se concentrar no passivo dos IMLs, cadáveres sem identificação.
Autoridade Central Estadual para Políticas de Pessoas Desaparecidas, da Superintendência de Identificação Humana de Goiás, Antônio Maciel Filho lembra que, embora tenha sido criada a mobilização, o trabalho é contínuo durante todo o ano e visa dar celeridade à solução dos casos de desaparecimento no Estado, em média nove por dia.

FONTE: O POPULAR